Nunca, é tarde...
"Ester"
From the Dephts to Glory Once More
After 76 years on the bottom of the Baltic, the 1901 Swedish racing sloop ESTER has been brilliantly restored and is sailing again. Once unbeatable, now unforgettable—her story is a triumph of craftsmanship, history, and heart.Quando nos deparamos com um conjunto de tábuas aparentemente podres, aparentemente desagregadas e desalinhadas, cavernas partidas e soltas, casco deformado, pensamos; "Este barco está perdido".
Mas nem sempre é assim.
ESTER
Após 76 anos no fundo do mar Báltico em águas suecas, a cerca de 50 metros de profundidade, "Ester" um pequeno veleiro de regata construido em 1901 com cerca de 15 m de comprimento mas extremamente leve e rápido, foi impecavelmente restaurado. Eis uma história de sucesso, possível apenas porque existe este Mar,e esta Gente, um momento de pura paixão, transformado em múltiplos momentos de ação. Assim ao jeito de Espinosa...
PINANTE
Na CENÁRIO estamos a recuperar um "Vouga Clássico" um barco considerado irrecuperável e irremediavelmente perdido, não fora um conjunto de circunstâncias que até ver se alinham no rumo certo.
Trata-se do vouga "Pinante", provavelmente construido no Arsenal do Alfeite, em 1949, com toda a certeza segundo projeto de 1939 elaborado por iniciativa do Sport Algés e Dafundo.
Este Vouga do Tejo fundeado junto ao Clube Náutico do Seixal, cativou o olhar de Zé Lírio de Carvalho, sócio fundador da Cenario- Centro Náutico do Rio de Ovar, que o namorou durante algum tempo e finalmente o adquiriu, deixando as águas espelhadas da baía do Seixal vazias daquele reflexo elegante, da calma silhueta flutuando na imaginação de quem o observava... Dizem que caíram lágrimas quando foi conduzido desde o Seixal até ás águas abrigadas do Carregal, em Ovar, hibernando na líndíssima casa de famíla de Zé Lírio, na bela e única Rua Padre Ferrer...
Mas a vida dos barcos nem sempre são rosas (1) e com o tempo e as canseiras da vida, o "Pinante" foi sendo esquecido, longe das águas certas, longe do abrigo que se desejava, e foi-se degradando... quase até ao limite, muito perto do ponto que denominamos de não-retorno. Aqui chegado, o barco foi doado à CENÁRIO, pelo seu proprietário, mas o seu fim estava já vaticinado. O restauro implicaria um enorme investimento e necessitava de outras circunstâncias.
A RIA
Quando a ecologia social se cruza com fatores ecológicos naturais e etnograficos, podem ocorrer fenómenos de experimentação/ação, por vezes disruptiva, por vezes afirmando continuidades culturais... A procura do bem estar, resolvidas as questões essenciais da existência comum, acalenta essa coisa maravilhosa que é a busca do imaginário futurista, o sonho, a fantasia, resultando este movimento por vezes em momentos de síntese transformadora de que resultam objetos, celebrações, cultos, agremiações...
Na Ria de Aveiro estes fenómenos acontecem e a Costa Nova ocupa lugar de relevo neste crescendo social e ecológico e, salvaguardadas as distâncias quanto à busca uniforme do desenvolvimento económico dito sustentável, na Costa Nova podemos identificar momentos de ação rumo a um futuro por vezes feliz, por vezes pontuado por rupturas traumáticas e de consequências de duvidosa eficácia. Como exemplo "feliz" que nos interessa referir, e articulando as diferentes formas evolutivas da memória , os barcos VOUGA constituem fator de estímulo ao referido pulsar coletivo, e resultaram num género regenerativo de interessante resultado, ainda longe de se encontrar estabilizado, se é que algum dia...
Referi a ria de Aveiro, região lagunar, onde podemos identificar, seguir e aderir a fenómenos desta natureza , eventualmente fonte de desenvolvimento estratégico futuro, adotando as diversas metodologias do DESIGN. Desde 2004 e até antes, pontua, liderando o processo de restauro de embarcações tradicionais de recreio, a CENÁRIO, onde se estuda e identifica e regista cada embarcação que por aqui passa, e onde faltam meios e pessoas que transportem estas ações para patamares científicos de carater museológico, de acordo com o valor e o significado dos objetos que por aqui passam e que por vezes por aqui ficam. E com todo este processo e com os objetos as histórias e micro histórias decorrentes, construir o tal futuro risonho alimentando a referida imaginação, o sonho, de quem aqui vive e de quem nos visita. Sem medo de existirmos assim como somos, reinventando sempre as leituras do presente e desta verdade aquamórfica.
VOUGAS
Na Costa Nova ainda se mantêm as casas, as famílias e os encontros de verão, a sazonalidade das festas coletivas, os momentos plenos de significado, agregadores e representativos de um pulsar identitario que tem como referência a família, a praia, os passeios de barco, as regatas e... os Vougas.
Vougas disponíveis, hoje em dia, são coisa rara . Uma nova embarcação é bastante onerosa. A vertente competitiva eleva o patamar da classe para padrões distantes do passeio de família, da "digressão ao norte". As correntes e as marés transformam o exíguo espelho de água da Costa Nova num canal pouco seguro para um grupo de adolescentes se aventurarem até à "ilha" ou até uma aventura na "Bruxa" ou na ANGE, muito menos S. Jacinto. O custo da embarcação atinge valores próximos do custo de um pequeno automóvel.
Mas não menosprezemos a imaginação, o sonho, a beleza de uma embarcação Vouga e o prazer de velejar ao longo do que antigamente se chamava a "Biarritz". Os Vougas continuam a alimentar o imaginário coletivo, cujo epicentro é a Costa Nova.
Portanto, e naturalmente, fomos contactados por uma destas famílias da Costa Nova, que desde sempre observavam os Vougas, por vezes participavam neste ou naquele evento, oportunidades que foram construindo e sedimentando o sonho de terem um barco Vouga ...
"Será que têm um Vouga ,usado ou para recuperar que queiram ponderar vender?" Dizia ao telefone Ricardo Maia Moura.
"Não, a CENÁRIO não vende Vougas, mas podemos construir um de raiz, ou... podemos restaurar um que está em muito mau estado. Nunca será um barco muito competitivo nas provas oficiais. Trata-se de um modelo antigo..."
E assim começou a conversa, e muitas outras conversas, que culminaram na responsabilidade de restaurar o Vouga "Pinante" na versão tão original quanto possível.
E com a colaboração de alguns ex-formandos em carpintaria Naval, dos cursos de Estarreja e Monte Branco, encontraram-se em odo de "estágio" as circunstancias necessárias, ( mas não totalmente suficientes), que viabilizaram este desafio. E o processo já iniciou...
Em 2008 era assim :
O Pinante" na 2ª Regata CENÁRIO, 2008E em 2025 estamos como se vê...
E com esta nota se dá conhecimento à comunidade náutica e a todos os que se interessam pela cultura, que o restauro de uma embarcação histórica e significante não tem cobertura ou enquadramento legal que a enquadre e a classifique e a proteja. Um museu vivo é um museu ativo que se envolve e e vive com a comunidade. A rede Portuguesa de Museus ainda não chegou à água, aos territórios aquamórficos regenerativos e sedentos de transformação. É necessário pensar este posicionamento.
Um Modelo Bigada Naval, idêntico ao "Pinante", no Porto da Horta. e acabadinho de ser restaurado. Se ainda existir será uma raridade, pois respeita na íntegra o projeto de 1939 ( Veja-se com atenção o quebra-mar, o lançamento da proa, o painel...



