Sunday, July 04, 2021

A VER VAMOS


Uma obra cinematográfica em rodagem na Ria, nesta vasta ria em transmutação permanente, ela própria personagem omnipresente nos cenários, nas pessoas, na ação. Uma obra cinematográfica baseada na obra literária de um escritor que bem conhecemos, dramática e de um tempo já distante, mas também de hoje e agora, "me too" dos anos 50, outras redes sociais, ou não estivéssemos em território de pescadores e de peixes, nós, os peixes que nos deslocamos no tempo fluido e profundo cruzando continentes entre as canízias e os esteiros, navegações incertas em espaços infinitos, pela noite dentro. 

Raul Brandão é chamado à liça, convocado para co-refletir nos espelhos de água as imagens construídas com partidas e chegadas, neste e naquele cais, os cais dos nossos encontros com a vida, portos imprevistos que nos surprendem cada dia, cada vez mais. 

Não é a pesca, não é a apanha do moliço nem os moliceiros, nem é a arte xávega e as transformações sociais decorrentes da industrialização tardia em pleno sec. XX. Não sei se da estética neo-neorealista se trata, mas desconfio que andará por ali um certo dramatismo social, entre o teatro da vida e uma paisagem dura e inacessível, desafiante, a paisagem mítica das capelas e igrejas de beira Ria, os milagres e mistérios das imagens de santos e mártires que surgem nas ribeiras, entre-águas, nos golfos, nas redes dos pescadores. Não sei se será disto que trata o filme, provavelmente não, a ver vamos. como diz o invisual, também cego, ávido de luz e ação. 

Um "Bando à Parte".