Escola/oficina de carpintaria naval
RIBEIRA DA ALDEIA PARDILHÓ
Exmo sr. Presidente da
Câmara Municipal de Estarreja
Dr. Diamantino Sabina
Temos conhecimento, e foi por nós
confirmado numa reunião com o anterior Presidente desta Câmara, Dr. José
Eduardo Matos, que o Estaleiro Naval de Mestre José da Silva, situado junto ao
esteiro da Ribeira da Aldeia, em Pardilhó, pertence atualmente à autarquia de
Estarreja.
Tendo a noção de que a Câmara
Municipal de Estarreja poderá revitalizar naquele espaço, valências da área da
museologia e da formação em Carpintaria Naval, vem a CENARIO, Centro Náutico da
ria de Ovar, situada no cais do Puxadouro, em Válega, disponibilizar-se perante
a Câmara Municipal de Estarreja para colaboração na concretização deste
projeto.
Esta proposta
baseia-se:
1-Na memória e
características do espaço e sua envolvente, na sua especificidade no contexto
da cultura náutica e no respeito pela vontade de mestre José da Silva.
2-Na experiência
e competências que a CENARIO – Centro Náutico da Ria de Ovar possui no âmbito
da museologia, da carpintaria naval e da náutica desportiva, sendo estes os
seus objetivos estatutários
3-Nas valências
e formação específica de alguns dos membros desta associação na área da
carpintaria naval, onde também se poderá incluir a arquitetura, o planeamento a
engenharia e a biologia.
foto : H. Ventura Abril, 1997, Sr José e Sr. Dinis
O projeto
:
a-
O projeto no qual gostaríamos de participar
caracterizar-se-ia como um projeto pedagógico, museológico, oficinal,
elaborado pela Câmara Municipal de Estarreja, em parceria com instituições
locais que complementem saberes e meios necessários á sua implementação e
gestão sustentável.
b-
Um projeto que
se afirmasse como um dos pólos da “rede” constituída pelos cais de acostagem do
topo norte da ria de Aveiro, a norte da Ponte da Varela, formando uma unidade
operativa e identitária assente na navegabilidade e na cultura “ribeirinha” ou
“marinhoa” mas que apostasse no património náutico de recreio como fator
diferenciador.
c-
Um projeto baseado no restauro das instalações do
estaleiro de mestre José da Silva e mestre Dinis, e sua envolvente imediata,
partindo de um programa funcional delineado tendo em conta primordialmente as
funções pedagógica e oficinais, com referências á memória e saber ali
representado.
a-
Um projeto de arquitetura fortemente caracterizado
pelos materiais e técnicas construtivas atualmente presentes no estaleiro, de modo
a estabelecer uma continuidade formal e emotiva com a pré-existência.
b-
Um projeto onde houvesse lugar para a construção naval,
para o restauro de embarcações representativas da arte da carpintaria naval,
tendo em conta o caso particular do Estaleiro da Ribeira da Aldeia, um caso
específico no panorama da Náutica Desportiva caracterizado por
conhecimentos técnicos e teóricos no campo de engenharia e arquitetura naval.
c-
No entendimento de que a elaboração de uma estratégia
de desenvolvimento para este vasto território poderá ser enquadrada no âmbito
interconcelhio e interinstitucional, sob o paradigma da sustentabilidade
económica,
Foto H. ventura (o estaleiro em
2002)
Objetivos:
Os fatores
positivos de ordem económica, social e cultural decorrentes da implementação
deste projeto parecem-nos de fácil enumeração:
-A preservação
de património material e imaterial
-A criação de
emprego
- A formação e
sensibilização dos jovens formandos no campo da Náutica, inserido na “economia
do mar”.
-A
sustentabilidade económica pelo restauro, elaboração e construção de
embarcações.
-O
desenvolvimento da economia local
-O
estabelecimento de uma política de inserção social, contribuindo para a solução
de casos específicos ao nível do fraco rendimento escolar, ou de dificuldades
de inserção no sistema de ensino.
-A articulação
com o Concelho de Ovar, tirando partido da especificidade do Porto de Recreio
do Carregal e do seu potencial como “montra” e localização específica no âmbito
da mobilidade terrestre - do Cais do Puxadouro e do seu potencial como espaço
de cruzamento de pessoas e saberes, articulando a técnica a teoria e a história
da náutica de recreio num âmbito mais amplo
- O relacionando
entre estes locais através da NAVEGABILIDADE proporcionando experiências únicas
ao nível paisagístico e cultural
-A promoção
turística e o reforço da marca “Ria de Aveiro” através das especificidades e
culturas locais.
- E outros
fatores que outros olhares podem vislumbrar.
Concluindo;
Para dar
continuidade a este projeto, materializando-o e encontrando o modo e a forma
jurídica de estabelecer parcerias será necessário uma reflexão conjunta, pelo
que nos disponibilizamos desde já para aprofundarmos este assunto, e procurar
encontrar o melhor caminho para o concretizarmos, caso seja este o entendimento
da Câmara Municipal de Estarreja.
P`la CENARIO
Helder Ventura
A Arte da Carpintaria Naval.
Neste contexto interessa desenvolver o conceito ; “ A Arte dos barcos”.A
arte dos barcos é o que motiva e movimenta toda uma comunidade em redor destes
complexos objetos, onde a forma/função, a performance náutica , os detalhes
construtivos, as madeiras e os acabamentos nos podem aproximar da aura do
“belo”.
2-
O trabalho em rede
Uma realidade territorial distinta
É uma mais
valia existirem diversos sítios dedicados à cultura náutica e ao estudo,
preservação e divulgação da memória e da identidade coletiva, e outros locais
onde esta realidade pode ser implementada.
-No entanto
não devemos correr o risco de repetições, imprecisões e desarticulação
de linguagens e contextos, investindo em espaços sem escala nem possibilidade
de dinamizar por si só uma comunidade.
-Um projeto territorial, de índole museológica, com
sustentabilidade económica, é possível e desejável.
-As dinâmicas
que esta rede poderá criar em função de locais
historicamente definidos, desenvolvendo atividades diferenciadas e complementares,
terá impactos sociais e económicos muito significativos na região, e preservará
a Ria de Aveiro como espaço de mobilidades.
-A preservação das embarcações tradicionais da Ria de
Aveiro, a sua divulgação e projeção para o exterior, acompanhando o processo de
globalização que sempre esteve ligado á navegação, é factor de divulgação da
cultura do nosso país.
Neste
contexto, e neste projeto de uma rede de espaços de construção naval, para além
desta cultura onde os portugueses sempre se evidenciaram, está desde sempre, a
água navegável da Ria, elo de união entre localidades e comunidades, fator
estruturante da Comunidade Intermunicipal
da Região de Aveiro.
A identificação dos sítios - pólos de
interpretação e agregação de conhecimento
Ovar
·
Cais da Ribeira – Os transportes e o sal.
·
Carregal – Exposição/interpretação da Náutica de Recreio
Capacidade de
acolhimento/ eventos náuticos
·
Puxadouro – Demonstração/registo e restauro museológico
Transporte de Caulinos
·
Revitalização e dinamização dos cais tradicionais.
Estarreja
§
Ribeira da Aldeia – Prática pedagógica /Escola de carpintaria naval/ Registo/
Desenvolvimento de projetos/desenho e cálculo
§
Memória coletiva
§
Revitalização e dinamização dos cais tradicionais
Murtosa
·
Estaleiro da Ribeira de Pardelhas - Demonstração/construção
tradicional
·
Estaleiro do Monte Branco – Demonstração/construção tradicional
·
Torreira - Campo de regatas/ eventos náuticos
Aveiro
§
Estaleiros de Aveiro - Contexto empresarial
§
Centro arqueologia
sub-aquática, “interpretação das caravelas”.
§
Universidade de Aveiro - Investigação/planeamento/monitorização …
§
Estrutura para a arquelogia sub-aquárica- museu- (espólio afundado nas
águas da Ria e mar adjacente…)
§
Capacidade de acolhimento e estadia
·
Ílhavo
·
- O Museu Marítimo de Ílhavo
·
- A tradição do mar/ O bacalhau
·
- Os estaleiros Delmar Conde
Componentes de sustentabilidade
§
Sustentabilidade, de índole institucional, empresarial,
associativa, ambiental e turística, que decorre das atividades, visitas,
serviços e diferentes modos de envolvimento com as comunidades locais e
regionais.
§
Componente pedagógica (escola) onde se aprendem
as técnicas os métodos os materiais e as novas tecnologias.
§
Componente de inovação e investigação de
materiais, técnicas e de políticas de planeamento florestal e de
sustentabilidade ambiental
§
Componente gastronómica
§
Componente de planeamento territorial para a
navegabilidade da Ria
1- O caso peculiar de Pardilhó
No contexto desta região e por razões que ainda não se conseguem
detetar com precisão histórica, surge a Freguesia de Pardilhó, no concelho de
Estarreja, como o pólo mais significativo desta atividade da carpintaria naval.
Nos estaleiros de Pardilhó formavam-se mestres
carpinteiros navais, que, deslocados para outras regiões, nomeadamente Seixal e
Setúbal, fundavam eles próprios os seus estaleiros. A especialização de grande
número de pardilhoenses nesta arte fez com que, por exemplo, a sede nacional do
sindicato dos carpinteiros navais se estabelecesse em Pardilhó, até 1974.
No entanto, o caso de Pardilhó tem uma dupla vertente que interessa
referir.
Nesta freguesia
surgem as duas vertentes da arte de construir barcos, a erudita e a
tradicional.
Por um lado temos ainda hoje, as artes tradicionais resultantes de um
processo de lenta evolução secular
que se manifestam na construção de modelos geração, por outro lado, como
era o caso do Estaleiro de Mestre José Duarte da Silva na Ribeira da Aldeia, a arte resultante de modelos individuais,
executados á
medida de projetos e concepções particulares, calculados segundo
métodos científicos, resultado da modernidade e da instituição de uma “escola”.
É nesta segunda vertente que devemos desenvolver o
projeto para a Ribeira da Aldeia pois era esta a arte de mestre José da Silva,
é esta arte mais abrangente em termos pedagógicos e científicos. Mas também
porque é uma vertente onde facilmente se enquadra a arte de construção
tradicional, onde existem carências de estudo e registo aprofundado.
1- Núcleo Museológico da Náutica de Recreio e Atividades Náuticas Desportivas.
Carregal - Ovar
2- CENÁRIO – Centro Náutico da Ria de Ovar – Restauro e construção naval de pequena
escala, pólo de atividades eco-culturais. Puxadouro, Válega
3- Centro Interpretativo da Carpintaria Naval – Memória, escola,
técnica, registo. Ribeira da Aldeia,
Pardilhó.
4- Estaleiro
de restauro e construção naval tradicional. Monte Branco, Torreira
|
Este espaço caracteriza-se pela presença de um cais, e um conjunto de
esteiros que ali confluem. Estabelece, com o largo de S. Pedro, o principal
espaço público de Pardilhó, um eixo urbano de interessante desenho e
diversidade.
É junto a
este cais, no seu lado Norte, que se situa o edifício/estaleiro agora em
recuperação.
Todo o espaço
público em redor do cais necessita de uma ação urbanística de ordenamento e
hierarquização de percursos.
A diversidade
funcional e as atividades ali existentes respondem aos desígnios de
desenvolvimento suportados por uma forte relação com a água e o espaço natural
- a canoagem e o associativismo, a carpintaria naval e o centro de
interpretação, a estadia diária, (parque de merendas) e os percursos a pé, de
bicicleta e de barco, em redor da realidade dos cais e esteiros próximos.
Para culminar,
seria desejável a recuperação do equipamento hoteleiro existente e que se
encontra desativado. Com este equipamento poder-se-ia potenciar a gastronomia
local, fortalecendo a diversidade de oferta e a atratividade do sítio, destino
para navegantes e outros visitantes.
Ovar, 24 de novembro de 2016,
helder
ventura