Wednesday, August 11, 2021

 Por vezes chamam-lhe azar. Outras vezes peripécias. Atribulações, também é possível. Podemos ainda especular: fatores perversos...inesperadas ocorrências? Tudo isto e ainda mais, foi o que nos aconteceu no último Cruzeiro da Ria. O 57º. Regata Ovar-Aveiro-Ovar. Um evento que não se pode perder. Tinha o barquinho pronto, O Vouga "Aventura", aparelho do leme restaurado, cabos e manilhas e mordentes e moitões, tudo revisto. Estai, contra-estai, brandais, tudo em afinado estado, tudo firme e seguro. Velas aparelhadas de acordo com o vento que se previa forte no sábado. Uma pôpa, intercalada por largos folgados, seria uma regata rápida e excitante. Estávamos atracados a escassos metros da largada, preparados, aguardando o sinal de advertência. Sobe a bandeira, soltamos a amarra. Uma primeira rajada forte, orça, progride, virar de bordo. Algo se passa com o leme. Estou sem governo e no meio das frotas de sharpies e vougas... consegui, ainda não sei muito bem como, só com as velas, atracar de novo sem perigos de maior. Confirmo que o leme não existe. O que se terá passado? Pedimos reboque até ao guincho, impunha-se verificar o problema. Descer velas! Chegados ao guincho, o empregado do clube tinha outros afazeres. Não estava disponível. Plano B , Decidimos fazer o Cruzeiro no "Melody", que estava disponível e pronto. Classe Andorinha, a navegar desde 1944. Subir velas, preparar tudo a preceito, lá vamos nós, os últimos da regata, já não se viam velas no horizonte. O vento era de facto uma beleza para surfar e planar. Três tripulantes a bordo do Melody", no mínimo 230 kg de marinheiros, controlando as rajadas de vinte e tal nós. Logo que aplicámos o spi, salta um pino do moitão da escota da grande , fica a retranca livre... mas com o "boomjack" a tratar da vela... Nova aflição a bordo, controlada pelo uso de uma manilha da caixa de emergências. Problema resolvido. SEMPRE A SURFAR, cruzámo-nos com um sharpie 12 que regressava a reboque, após viranço. Estai pintalgado de negro, o lodo da Ria a manifestar-se nas velas... Nós prosseguiamos, patilhão a meio, pôpa e largo, mais largo que pôpa, e já estávamos na Varela. Solta-se o boomjack, (em português é "burro") mais um cabo que cede, fruto da tensão necessária para aplanar a vela. Mais frenezi a bordo um cabo que se recupera do saco das emergências. Problema resolvido. Passámos a Ponte a maré desce, o Vento cresce, nem o james bond andaria assim. Optamos pelo canal junto à Torreira, mas desde logo temos que ter em conta o rumo após o Monte Branco, ( uma praia na Torreira, não confundir com os Alpes), fugindo à Pousada, para nascente, para nascente, pois ali existem uns baixios muito muito traiçoeiros, assinalados por uns ramalhos bem grandes colocados estrategicamente no enfiamento do baixio. A balizagem possível meus caros. Não fossem os "Praticos" e umas viagens frequentes naquelas águas e não sei como seria pois as sondas nestas circunstâncias quando avisam já éra... e nós não temos sonda. Procuro os ramalhos, a balizagem que nos indica o baixio. Lá os encontro, muito a sotavento. quero arribar mas temo a cambadela, vou sempre arribando, arribando mas não chega . De súbito passo entre os ramalhos, , o patilhão salta, o leme treme, quase parámos, o fundo não é lodo é areia dura. Sente-se o fundo no fundo do casco. Vem uma rajada, o pião da retranca não aguenta, penso que a retranca partiu. Alvoroço. Descer velas? Nem pensar. Foi o pião que partiu? Vamos recorrer mais uma vez ao saco de emergência. Em andamento, pois o vento não dava tréguas, orçamos o mais possível, a vela a bater, mas não demasiado, pois seria impossível segurar a retranca, com artes mágicas o Carlos com um cabo de 4mm ia envolvendo o mastro e a retranca num novelo que os abraçava, firmes. E prosseguimos. Com capacidade de manobra, com a vela grande ligeiramente "desfocada", tudo a postos, progredíamos, agora com a presença de um pneumático que ia dando instruções para a comissão e juri da regata... Estavamos em últimos, mas não muito pois já se viam alguns veleiros e surpreendentemente chegámos 20 m depois de um Vouga, que tinha virado... e não é pêra doce continuar uma regata depois de um viranço, tratando-se de um Vouga... Chegámos à baía de S. Jacint sur Mèr, e como é costume, no final chegam sempre mais angústias, as piores pois já estamos cansados e com o cais à vista... Chegamos, arrumamos o barquinho, fizemos uma revisão da matéria ocorrida e prontos para o regresso no dia seguinte. Calmo, muito calmo... Fizemos umas excelente regata no dia seguinte.