Escola, arte, sabedoria, elevação, princípios.
A CENARIO desde a sua fundação tem vindo a pugnar e a estudar a possibilidade de uma escola de carpintaria Naval na sub-região da Ria de Aveiro para Norte de S. Jacinto ( que tradicionalmente e na cartografia antiga se chamava Rio de Ovar e Mar de Ovar). Esta uma das componentes estatutárias da fundação da CENARIO em 2004.
Esta possibilidade tem vindo a ganhar força pois o concelho de Estarreja nomeadamente Pardilhó tem largas tradições nesta indústria da construção naval em madeira, mesmo na vertente erudita, o que para nós constitui um caso digno de estudo, pois Pardilhó não se situa num grande centro de navegação, pesca ou comércio.
Quando em 2015 o Estaleiro da Ribeira da Aldeia foi doado à Câmara Municipal de Estarreja, logo nos pareceu que seria uma boa oportunidade para concretizar um projeto que até já tinha sido experimentado na Escola Secundária de Pardilhó... mas em moldes muito formatados pela tutela do Ensino, e ainda muito precoce quanto à realidade do poder político entender as artes tradicionais como factor de desenvolvimento identidade e cultura, que o contexto de afluxo turístico veio despoletar.
Portanto, em 2014 , promovemos uma reunião com a Câmara de Estarreja, no sentido de contribuirmos para a revitalização do referido Estaleiro...
Escola/oficina de carpintaria naval
RIBEIRA DA ALDEIA PARDILHÓ
Exmo sr. Presidente da
Câmara Municipal de Estarreja
Dr. Diamantino Sabina
Temos conhecimento, e foi por nós
confirmado numa reunião com o anterior Presidente desta Câmara, Dr. José
Eduardo Matos, que o Estaleiro Naval de Mestre José da Silva, situado junto ao
esteiro da Ribeira da Aldeia, em Pardilhó, pertence atualmente à autarquia de
Estarreja.
Tendo a noção de que a Câmara
Municipal de Estarreja poderá revitalizar naquele espaço, valências da área da
museologia e da formação em Carpintaria Naval, vem a CENARIO, Centro Náutico da
ria de Ovar, situada no cais do Puxadouro, em Válega, disponibilizar-se perante
a Câmara Municipal de Estarreja para colaboração na concretização deste
projeto.
Esta proposta
baseia-se:
1-Na memória e
características do espaço e sua envolvente, na sua especificidade no contexto
da cultura náutica e no respeito pela vontade de mestre José da Silva.
2-Na experiência
e competências que a CENARIO – Centro Náutico da Ria de Ovar possui no âmbito
da museologia, da carpintaria naval e da náutica desportiva, sendo estes os
seus objetivos estatutários
3-Nas valências
e formação específica de alguns dos membros desta associação na área da
carpintaria naval, onde também se poderá incluir a arquitetura, o planeamento a
engenharia e a biologia.
foto : H. Ventura Abril, 1997, Sr José e Sr. Dinis
O projeto
:
a-
O projeto no qual gostaríamos de participar
caracterizar-se-ia como um projeto pedagógico, museológico, oficinal,
elaborado pela Câmara Municipal de Estarreja, em parceria com instituições
locais que complementem saberes e meios necessários á sua implementação e
gestão sustentável.
b-
Um projeto que
se afirmasse como um dos pólos da “rede” constituída pelos cais de acostagem do
topo norte da ria de Aveiro, a norte da Ponte da Varela, formando uma unidade
operativa e identitária assente na navegabilidade e na cultura “ribeirinha” ou
“marinhoa” mas que apostasse no património náutico de recreio como fator
diferenciador.
c-
Um projeto baseado no restauro das instalações do
estaleiro de mestre José da Silva e mestre Dinis, e sua envolvente imediata,
partindo de um programa funcional delineado tendo em conta primordialmente as
funções pedagógica e oficinais, com referências á memória e saber ali
representado.
a-
Um projeto de arquitetura fortemente caracterizado
pelos materiais e técnicas construtivas atualmente presentes no estaleiro, de modo
a estabelecer uma continuidade formal e emotiva com a pré-existência.
b-
Um projeto onde houvesse lugar para a construção naval,
para o restauro de embarcações representativas da arte da carpintaria naval,
tendo em conta o caso particular do Estaleiro da Ribeira da Aldeia, um caso
específico no panorama da Náutica Desportiva caracterizado por
conhecimentos técnicos e teóricos no campo de engenharia e arquitetura naval.
c-
No entendimento de que a elaboração de uma estratégia
de desenvolvimento para este vasto território poderá ser enquadrada no âmbito
interconcelhio e interinstitucional, sob o paradigma da sustentabilidade
económica,
Foto H. ventura (o estaleiro em
2002)
Objetivos:
Os fatores
positivos de ordem económica, social e cultural decorrentes da implementação
deste projeto parecem-nos de fácil enumeração:
-A preservação
de património material e imaterial
-A criação de
emprego
- A formação e
sensibilização dos jovens formandos no campo da Náutica, inserido na “economia
do mar”.
-A
sustentabilidade económica pelo restauro, elaboração e construção de
embarcações.
-O
desenvolvimento da economia local
-O
estabelecimento de uma política de inserção social, contribuindo para a solução
de casos específicos ao nível do fraco rendimento escolar, ou de dificuldades
de inserção no sistema de ensino.
-A articulação
com o Concelho de Ovar, tirando partido da especificidade do Porto de Recreio
do Carregal e do seu potencial como “montra” e localização específica no âmbito
da mobilidade terrestre - do Cais do Puxadouro e do seu potencial como espaço
de cruzamento de pessoas e saberes, articulando a técnica a teoria e a história
da náutica de recreio num âmbito mais amplo
- O relacionando
entre estes locais através da NAVEGABILIDADE proporcionando experiências únicas
ao nível paisagístico e cultural
-A promoção
turística e o reforço da marca “Ria de Aveiro” através das especificidades e
culturas locais.
- E outros
fatores que outros olhares podem vislumbrar.
Concluindo;
Para dar
continuidade a este projeto, materializando-o e encontrando o modo e a forma
jurídica de estabelecer parcerias será necessário uma reflexão conjunta, pelo
que nos disponibilizamos desde já para aprofundarmos este assunto, e procurar
encontrar o melhor caminho para o concretizarmos, caso seja este o entendimento
da Câmara Municipal de Estarreja.
P`la CENARIO
Helder Ventura
Entretanto e em 2016, tendo em conta o tão propalado quadro 2020, voltámos a insistir no tema, desta vez promovendo contactos com as Câmaras de Ovar e Estarreja, que ficaram na posse do seguinte documento:
- Centro Interpretativo da Carpintaria Naval – Ribeira da Aldeia, Pardilhó, (Estarreja)
- Nucleo Museológico do Carregal, ( Ovar)
“Um barco é a liberdade!”
-
O pirata das Caraíbas-
Enquadramento territorial
A possibilidade
de um espaço destinado à interpretação da carpintaria naval em Pardilhó, com o
objetivo de formar novas gerações de mestres e artistas, preservando esta arte,
respeitando a memória de muitas gerações e o desígnio de Mestre José da Silva,
que doou o seu estaleiro localizado na Ribeira da Aldeia à Câmara Municipal de
Estarreja, faz todo o sentido.
A Arte da Carpintaria Naval.
A Ribeira
de Ovar, as Ribeiras de Pardilhó, o Bico da Murtosa, o Rossio de Aveiro, as
Gafanhas de Ílhavo, e mais recentemente S. Jacinto e as áreas do Porto de
Aveiro, e muitos outros locais dispersos pela rede de caminhos e ruas que
riscam os relacionamentos terrestres entre Ribeiras e Cais, são sítios onde
podemos identificar a presença de estaleiros de carpintaria naval de diferentes
escalas e em diferentes épocas. Estes estaleiros e esta “indústria criativa”,
para além de contribuírem para o desenvolvimento económico da região com as
múltiplas atividades que lhe estavam associadas, contribuiram para a projeção
da região por todo o país e por todo o mundo, através da criação de embarcações
únicas e peculiares; Moliceiros, Bateiras, Mercantéis, Varinos … e mais
recentemente Vougas, Andorinhas, Sharpies…
Neste contexto interessa desenvolver o conceito ; “ A Arte dos barcos”.A
arte dos barcos é o que motiva e movimenta toda uma comunidade em redor destes
complexos objetos, onde a forma/função, a performance náutica , os detalhes
construtivos, as madeiras e os acabamentos nos podem aproximar da aura do
“belo”.
2-
O trabalho em rede
Uma realidade territorial distinta
-No entanto
não devemos correr o risco de repetições, imprecisões e desarticulação
de linguagens e contextos, investindo em espaços sem escala nem possibilidade
de dinamizar por si só uma comunidade.
-Um projeto territorial, de índole museológica, com
sustentabilidade económica, é possível e desejável.
-As dinâmicas
que esta rede poderá criar em função de locais
historicamente definidos, desenvolvendo atividades diferenciadas e complementares,
terá impactos sociais e económicos muito significativos na região, e preservará
a Ria de Aveiro como espaço de mobilidades.
-A preservação das embarcações tradicionais da Ria de
Aveiro, a sua divulgação e projeção para o exterior, acompanhando o processo de
globalização que sempre esteve ligado á navegação, é factor de divulgação da
cultura do nosso país.
Neste
contexto, e neste projeto de uma rede de espaços de construção naval, para além
desta cultura onde os portugueses sempre se evidenciaram, está desde sempre, a
água navegável da Ria, elo de união entre localidades e comunidades, fator
estruturante da Comunidade Intermunicipal
da Região de Aveiro.
A identificação dos sítios - pólos de
interpretação e agregação de conhecimento
Ovar
·
Cais da Ribeira – Os transportes e o sal.
·
Carregal – Exposição/interpretação da Náutica de Recreio
Capacidade de
acolhimento/ eventos náuticos
·
Puxadouro – Demonstração/registo e restauro museológico
Transporte de Caulinos
·
Revitalização e dinamização dos cais tradicionais.
Estarreja
§
Ribeira da Aldeia – Prática pedagógica /Escola de carpintaria naval/ Registo/
Desenvolvimento de projetos/desenho e cálculo
§
Memória coletiva
§
Revitalização e dinamização dos cais tradicionais
Murtosa
·
Estaleiro da Ribeira de Pardelhas - Demonstração/construção
tradicional
·
Estaleiro do Monte Branco – Demonstração/construção tradicional
·
Torreira - Campo de regatas/ eventos náuticos
Aveiro
§
Estaleiros de Aveiro - Contexto empresarial
§
Centro arqueologia
sub-aquática, “interpretação das caravelas”.
§
Universidade de Aveiro - Investigação/planeamento/monitorização …
§
Estrutura para a arquelogia sub-aquárica- museu- (espólio afundado nas
águas da Ria e mar adjacente…)
§
Capacidade de acolhimento e estadia
·
Ílhavo
·
- O Museu Marítimo de Ílhavo
·
- A tradição do mar/ O bacalhau
·
- Os estaleiros Delmar Conde
Componentes de sustentabilidade
§
Sustentabilidade, de índole institucional, empresarial,
associativa, ambiental e turística, que decorre das atividades, visitas,
serviços e diferentes modos de envolvimento com as comunidades locais e
regionais.
§
Componente pedagógica (escola) onde se aprendem
as técnicas os métodos os materiais e as novas tecnologias.
§
Componente de inovação e investigação de
materiais, técnicas e de políticas de planeamento florestal e de
sustentabilidade ambiental
§
Componente gastronómica
§
Componente de planeamento territorial para a
navegabilidade da Ria
1- O caso peculiar de Pardilhó
Nos estaleiros de Pardilhó formavam-se mestres
carpinteiros navais, que, deslocados para outras regiões, nomeadamente Seixal e
Setúbal, fundavam eles próprios os seus estaleiros. A especialização de grande
número de pardilhoenses nesta arte fez com que, por exemplo, a sede nacional do
sindicato dos carpinteiros navais se estabelecesse em Pardilhó, até 1974.
Nesta freguesia
surgem as duas vertentes da arte de construir barcos, a erudita e a
tradicional.
Por um lado temos ainda hoje, as artes tradicionais resultantes de um
processo de lenta evolução secular
que se manifestam na construção de modelos geração, por outro lado, como
era o caso do Estaleiro de Mestre José Duarte da Silva na Ribeira da Aldeia, a arte resultante de modelos individuais,
executados á
medida de projetos e concepções particulares, calculados segundo
métodos científicos, resultado da modernidade e da instituição de uma “escola”.
É nesta segunda vertente que devemos desenvolver o
projeto para a Ribeira da Aldeia pois era esta a arte de mestre José da Silva,
é esta arte mais abrangente em termos pedagógicos e científicos. Mas também
porque é uma vertente onde facilmente se enquadra a arte de construção
tradicional, onde existem carências de estudo e registo aprofundado.
O Centro de interpretação da Carpintaria Naval da Ribeira da Aldeia tem
condições para se exprimir como o projeto
prioritário desta rede intermunicipal de sítios e lugares dos municípios de
Ovar, de Estarreja e da Murtosa, formando um núcleo criado pelas seguintes
realidades:
1- Núcleo Museológico da Náutica de Recreio e Atividades Náuticas Desportivas.
Carregal - Ovar
2- CENÁRIO – Centro Náutico da Ria de Ovar – Restauro e construção naval de pequena
escala, pólo de atividades eco-culturais. Puxadouro, Válega
3- Centro Interpretativo da Carpintaria Naval – Memória, escola,
técnica, registo. Ribeira da Aldeia,
Pardilhó.
4- Estaleiro
de restauro e construção naval tradicional. Monte Branco, Torreira
|
Estes locais,
facilmente relacionados por percursos pela água, complementando-se segundo discurso
e princípios museológicos, seriam vocacionados para experiências de interação
com o território e com as culturas e identidades locais. A vertente pedagógica
e a prática oficinal e de navegação necessitaria de uma estrutura de
acompanhamento sazonal devidamente esclarecida e formada nas matérias em causa
e uma outra estrutura permanente, relacionada com a pedagogia e práticas
oficinais. Guias e formadores nas áreas específicas.
O espaço da
Ribeira da Aldeia
Este espaço caracteriza-se pela presença de um cais, e um conjunto de
esteiros que ali confluem. Estabelece, com o largo de S. Pedro, o principal
espaço público de Pardilhó, um eixo urbano de interessante desenho e
diversidade.
É junto a este cais, no seu lado Norte, que se situa o edifício/estaleiro agora em recuperação.
Todo o espaço público em redor do cais necessita de uma ação urbanística de ordenamento e hierarquização de percursos.
A diversidade funcional e as atividades ali existentes respondem aos desígnios de desenvolvimento suportados por uma forte relação com a água e o espaço natural - a canoagem e o associativismo, a carpintaria naval e o centro de interpretação, a estadia diária, (parque de merendas) e os percursos a pé, de bicicleta e de barco, em redor da realidade dos cais e esteiros próximos.
Para culminar, seria desejável a recuperação do equipamento hoteleiro existente e que se encontra desativado. Com este equipamento poder-se-ia potenciar a gastronomia local, fortalecendo a diversidade de oferta e a atratividade do sítio, destino para navegantes e outros visitantes.
É junto a este cais, no seu lado Norte, que se situa o edifício/estaleiro agora em recuperação.
Todo o espaço público em redor do cais necessita de uma ação urbanística de ordenamento e hierarquização de percursos.
A diversidade funcional e as atividades ali existentes respondem aos desígnios de desenvolvimento suportados por uma forte relação com a água e o espaço natural - a canoagem e o associativismo, a carpintaria naval e o centro de interpretação, a estadia diária, (parque de merendas) e os percursos a pé, de bicicleta e de barco, em redor da realidade dos cais e esteiros próximos.
Para culminar, seria desejável a recuperação do equipamento hoteleiro existente e que se encontra desativado. Com este equipamento poder-se-ia potenciar a gastronomia local, fortalecendo a diversidade de oferta e a atratividade do sítio, destino para navegantes e outros visitantes.
O Centro de Interpretação da Carpintaria
Naval
O projeto de
reconstrução do Estaleiro que aqui existia, quase uma réplica da construção de
meados dos anos 50, não responde completamente aos critérios de
operacionalidade desejável para este projeto. Por exemplo, não estão previstos
um sistema de renovação e filtragem do ar, um pequeno depósito para armazenamento
e tratamento de madeiras, um espaço de reunião separado da oficina, um pequeno
espaço de armazenamento de ferramentas e materiais diversos ( tintas, resinas,
vernizes, ) um espaço para equipamentos informáticos…
No entanto
uma alteração ao modo de implantar o edifício projetado poderia solucionar
estas questões. Por hipótese, poderia este edifício ser implantado a uma cota
superior, criando-se um espaço de rés-do-chão aberto e quase duplicando a área
de trabalho, sem alterar áreas de implantação nem colidir com o que já está
realizado?
Notas “programáticas”
Numa primeira
aproximação ás atividades a implementar, é possível prever um conjunto de atividades, iniciando um processo de
recuperação de embarcações históricas e representativas da náutica do séc. XX,
com o objetivo de as utilizar na divulgação destes “territórios Ria”,
utilizando as embarcações de modo sustentável.
Estabelecendo parcerias, poder-se-iam
implementar os seguintes projetos:
-Restauro (réplica?
) da embarcação “Sta Maria de Lagos”
-Restauro de
um “Vouga de Ovar”
-Construção de
uma bateira “caçadeira”
-Desenho de
uma bateira “mercantela”
Ou projetos de menor escala:
Workshop com
os símbolos do “Código Internacional de Sinais”
Workshop sobre
pinturas em miniaturas e proas de moliceiros
Workshop de
iniciação á vela numa embarcação tradicional,
Ou ainda projetos de índole imaterial:
Identificação
e recolha de testemunhos das diversas famílias de carpinteiros navais de
Pardilhó e da região,
Identificação
das migrações destes artistas e mestres para outras regiões, etc.
Dar início a um
processo de desenho e registo das embarcações tradicionais de modo a poderem ser
construídas na sua integridade e originalidade, preservando as suas linhas,
palamentas e utensílios de mareação, permitindo a regular navegação e usufruto
do património náutico que as embarcações representam. (O exemplo da “Marinha do
Tejo”)
-Não faz sentido formar novas gerações de carpinteiros navais se não lhes proporcionarmos possibilidades de trabalho.
Ovar, 24 de novembro de 2016,
helder
ventura
1 Comments:
Gostei do que li. E qual foi a resposta à proposta?
Abraço.
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