Objetos, coisas e a recusa do vazio.
O olhar atualizado que se propõe sobre os objetos no contexto das políticas patrimoniais tem como propulsor a ideia de biografia dos objetos. O conceito de biografia, sistematizado de forma pioneira por Kopytoff (2008), abre espaço para se pensar numa questão fundamental no campo do património: os objetos devem ser interpretados em ação, mimetizados nos contextos sociais e temporais em que circulam:
Molinete embarcação "S. Gabriel" |
Galhardete da "Andorinha" OVAR de Antero f. Malaquias. ( anos 40) |
Ao fazer a biografia de uma coisa, far-se-iam perguntas similares às que se fazem às pessoas: Quais são, sociologicamente, as possibilidades biográficas inerentes a esse “status”, e à época e à cultura, e como se concretizam essas possibilidades? De onde vem a coisa, e quem a fabricou? Qual foi a sua carreira até aqui, e qual é a carreira que as pessoas consideram ideal para esse tipo de coisa? Quais são as “idades” ou fases da “vida” reconhecidas de uma coisa, e quais são os mercados culturais para elas? Como mudam os usos da coisa conforme ela fica mais velha, e o que lhe acontece quando a sua utilidade chega ao fim? (Kopytoff 2008, 92)
A perspetiva biográfica dos bens patrimoniais, e dos seus movimentos, dentro e fora das fronteiras institucionais – ou, melhor dizendo, dos seus ciclos de vida – dão sentido à ideia de que os objetos são valorizados na sua interação social. Esta perspetiva coloca-nos, de forma contundente, frente a uma questão nevrálgica dentro do campo epistemológico dos museus: o valor dos objetos não é monolítico ou exatamente objetivo; pelo contrário, o valor potencial dos patrimónios só ganha contorno, peso e forma fora dos limites objetivos da sua materialidade.
https://midas.revues.org/1286
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