AS ANTIGAS CLASSES DE VELA E A ECONOMIA DO MAR - proposta de comunicação para o Congresso da Vela 2018. ( foi cancelado)
"As classes de vela"
Origens
O desenvolvimento e evolução do
desporto da vela assenta, entre outros fatores, na evolução dos tipos de
embarcações destinadas à prática e à competição. Esta evolução resulta de uma constante
inovação em busca de melhores desempenhos, cujo limite decorre do
desenvolvimento e evolução tecnológica de cada época.
Ao longo do último século e no
decorrer deste em que vivemos, tal processo evolutivo aliado a uma crescente
popularização do desporto, materializou-se num grande número de modelos de
embarcações que se organizam segundo “classes” ou parâmetros técnicos precisos.
Contexto
Deste processo, eminentemente
pragmático e funcional, resultaram sucessivos tipos e classes de embarcações de
dimensões e aparelhos vélicos diferenciados, ora destinados à iniciação e
aprendizagem nas escolas de vela ora destinadas a alta competição, e em cada
país se faziam experiências e se propunham modelos, num processo também ele
competitivo, procurando conquistar a preferência dos velejadores e dirigentes
do mundo da vela. As competições olímpicas determinaram em grande escala, esta
evolução.
Potencialidades
Da busca da velocidade sob a ação
do vento, ou decorrente desta, nunca esteve ausente a componente estética, a
busca da beleza e da elegância, a criatividade e inovação e podemos afirmar com
convicção que estamos perante uma arte, a “Arte dos Barcos”.
Com o passar do tempo, as
embarcações das antigas classes de vela vão entrando em desuso, vão sendo naturalmente
ultrapassadas pelas mais recentes e vão abandonando a competição, apesar das
suas qualidades marinheiras e do seu esmero técnico e construtivo. Mas, as embarcações das antigas classes de
vela constituem um notável património cujo potencial deverá ser equacionado
numa estratégia de desenvolvimento da vela, mas onde as componentes, cultural e
identitária podem constituir um novo paradigma, próximo dos conceitos das novas
museologias.
Cultura
Desta evolução cultural faz parte a História,
e será também nosso dever registar, divulgar promover as inúmeras histórias que
se desenrolam em redor da Vela, desporto onde o imaginário, condicionado
fortemente pelo meio onde se desenvolve, produz.
Parece evidente que com este
património poderemos produzir mecanismos que captem novos velejadores, de
diferentes faixas etárias e de diferentes contextos sociais e económicos,
fazendo crescer a comunidade náutica na diversidade, promovendo a evolução
cultural.
Pedagogia
É com base nestes patrimónios e
numa narrativa do conhecimento assente na história recente que podemos incluir
a vela nos currículos escolares, complementando a prática desportiva. Sabemos
que nem todos os velejadores na iniciação serão campeões olímpicos, mas só com
uma base alargada de praticantes poderemos formar esses campeões. Essa base
alargada de praticantes, que deve incluir faixas etárias avançadas (a população
está cada vez mais envelhecida) irá com certeza continuar a praticar vela,
constituindo assim uma verdadeira comunidade náutica. E como podemos equacionar
o desenvolvimento de uma economia do Mar sem uma comunidade náutica
culturalmente evoluída?
Território / Descentralização
Em Portugal, se excetuarmos
alguns trechos da costa algarvia, os estuários e águas abrigadas navegáveis
adequados à vela ligeira não são muito numerosos, e mesmo os que existem apresentam
por vezes condições difíceis para a prática da vela. Neste contexto, a Ria de
Aveiro durante grande parte do século XX constitui um espaço de exceção, onde o
desenvolvimento da vela e mesmo a criação de embarcações originais ocorreu.
Consistentemente, classes como os Vouga, Sharpie 12 M , Andorinha, Vaurien,
Snipe sempre navegaram nestas águas e
aqui se formaram centenas e centenas de velejadores, alguns deles ainda hoje e
ao mais alto nível confirmam a Escola de Vela que ali se produziu e onde os
clubes tiveram papel determinante.
A Ria de Aveiro, com os clubes
náuticos que ali se formaram podem constituir um cluster de desenvolvimento da
vela alicerçado na “arte dos barcos”, reutilizando as classes mais antigas ao
nível da aprendizagem e no início à competição. A ria de Aveiro, apesar das
condições de navegabilidade agora difíceis e complexas, é o território de
excelência para a vela ligeira, que não necessita de águas profundas. Temos a Comunidade Intermunicipal da Região
de Aveiro atenta ao que se desenvolve em redor do património náutico e
naturalmente já captámos o interesse dos municípios que a constituem, para esta
temática.
Comecemos então pelas
embarcações, os Sharpies, Vougas e Andorinhas…
Ovar, jan 2018
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