Friday, December 17, 2021

AS ANTIGAS CLASSES DE VELA E A ECONOMIA DO MAR - proposta de comunicação para o Congresso da Vela 2018. ( foi cancelado)

 

Cais do Puxadouro, 2021
                                                                           Cannes, 2021

 "As classes de vela"

Origens

O desenvolvimento e evolução do desporto da vela assenta, entre outros fatores, na evolução dos tipos de embarcações destinadas à prática e à competição. Esta evolução resulta de uma constante inovação em busca de melhores desempenhos, cujo limite decorre do desenvolvimento e evolução tecnológica de cada época.

Ao longo do último século e no decorrer deste em que vivemos, tal processo evolutivo aliado a uma crescente popularização do desporto, materializou-se num grande número de modelos de embarcações que se organizam segundo “classes” ou parâmetros técnicos precisos.

Contexto

Deste processo, eminentemente pragmático e funcional, resultaram sucessivos tipos e classes de embarcações de dimensões e aparelhos vélicos diferenciados, ora destinados à iniciação e aprendizagem nas escolas de vela ora destinadas a alta competição, e em cada país se faziam experiências e se propunham modelos, num processo também ele competitivo, procurando conquistar a preferência dos velejadores e dirigentes do mundo da vela. As competições olímpicas determinaram em grande escala, esta evolução.

 Potencialidades

Da busca da velocidade sob a ação do vento, ou decorrente desta, nunca esteve ausente a componente estética, a busca da beleza e da elegância, a criatividade e inovação e podemos afirmar com convicção que estamos perante uma arte, a “Arte dos Barcos”.

Com o passar do tempo, as embarcações das antigas classes de vela vão entrando em desuso, vão sendo naturalmente ultrapassadas pelas mais recentes e vão abandonando a competição, apesar das suas qualidades marinheiras e do seu esmero técnico e construtivo.  Mas, as embarcações das antigas classes de vela constituem um notável património cujo potencial deverá ser equacionado numa estratégia de desenvolvimento da vela, mas onde as componentes, cultural e identitária podem constituir um novo paradigma, próximo dos conceitos das novas museologias.

Cultura

 Desta evolução cultural faz parte a História, e será também nosso dever registar, divulgar promover as inúmeras histórias que se desenrolam em redor da Vela, desporto onde o imaginário, condicionado fortemente pelo meio onde se desenvolve, produz.

Parece evidente que com este património poderemos produzir mecanismos que captem novos velejadores, de diferentes faixas etárias e de diferentes contextos sociais e económicos, fazendo crescer a comunidade náutica na diversidade, promovendo a evolução cultural.

Pedagogia

É com base nestes patrimónios e numa narrativa do conhecimento assente na história recente que podemos incluir a vela nos currículos escolares, complementando a prática desportiva. Sabemos que nem todos os velejadores na iniciação serão campeões olímpicos, mas só com uma base alargada de praticantes poderemos formar esses campeões. Essa base alargada de praticantes, que deve incluir faixas etárias avançadas (a população está cada vez mais envelhecida) irá com certeza continuar a praticar vela, constituindo assim uma verdadeira comunidade náutica. E como podemos equacionar o desenvolvimento de uma economia do Mar sem uma comunidade náutica culturalmente evoluída?

Território / Descentralização

Em Portugal, se excetuarmos alguns trechos da costa algarvia, os estuários e águas abrigadas navegáveis adequados à vela ligeira não são muito numerosos, e mesmo os que existem apresentam por vezes condições difíceis para a prática da vela. Neste contexto, a Ria de Aveiro durante grande parte do século XX constitui um espaço de exceção, onde o desenvolvimento da vela e mesmo a criação de embarcações originais ocorreu. Consistentemente, classes como os Vouga, Sharpie 12 M , Andorinha, Vaurien, Snipe  sempre navegaram nestas águas e aqui se formaram centenas e centenas de velejadores, alguns deles ainda hoje e ao mais alto nível confirmam a Escola de Vela que ali se produziu e onde os clubes tiveram papel determinante.

A Ria de Aveiro, com os clubes náuticos que ali se formaram podem constituir um cluster de desenvolvimento da vela alicerçado na “arte dos barcos”, reutilizando as classes mais antigas ao nível da aprendizagem e no início à competição. A ria de Aveiro, apesar das condições de navegabilidade agora difíceis e complexas, é o território de excelência para a vela ligeira, que não necessita de águas profundas.  Temos a Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro atenta ao que se desenvolve em redor do património náutico e naturalmente já captámos o interesse dos municípios que a constituem, para esta temática.  

Comecemos então pelas embarcações, os Sharpies, Vougas e Andorinhas…

 

Ovar, jan 2018

 Helder Ventura

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