Thursday, November 17, 2011

A articulação e o relacionamento das pessoas e das instituições no Território da Democracia. Um caminho elementar.


Na sequência da minha participação no seminário promovido pela Câmara Municipal de Ovar – Criatividade em Cidades Médias Nacionais, no âmbito da aplicação do Programa de Regeneração Urbana (PRU) em Ovar, Programa este inserido num outro mais amplo, o Polis XXI, seminário que ocorreu a 9 de Novembro, e após uma reflexão sobre as diversas intervenções havidas, nomeadamente a questão levantada sobre a articulação entre o Programa de Reabilitação Urbana em Ovar e o Programa Polis da Ria de Aveiro, venho dar continuidade ao teor da minha intervenção no referido seminário, que por razões de contexto e “timings” procurou ser sintética e pontual.



(imagem ; projecto MNO - Memória Náutica Ovarense - esboço do interior - H. ventura, 2009)

Solicito portanto aos leitores que me acompanhem na seguinte reflexão:
1-      Um dos factores de diferenciação qualitativa e de forte atractividade de Ovar cidade em relação á grande maioria das cidades portuguesas é que a Ovar se poder ter acesso pela água.
Mesmo nas condições actuais de navegabilidade, é possível hoje, tomar um dos barcos do circuito turístico que operam em Aveiro e em menos de duas horas, chegar a Ovar.
2-      No entanto, as actuais condições de navegabilidade aconselham que esta aventura seja programada em dias e horas exactas, com conhecimento preciso da Ria e orientação na chegada a Ovar. Estas condicionantes não estimulam potenciais operadores a correrem o risco de colocar este trajecto na oferta de circuitos turísticos que em Aveiro operam sobretudo nos canais centrais.
3-      O potencial de desenvolvimento económico e social que poderia resultar da recuperação da navegabilidade da Ria, tendo Ovar como destino no topo Norte desta rede de mobilidade distinta, é enorme e de uma força estruturante determinante para o desenvolvimento do Concelho. A exemplo da recuperação da navegabilidade do Douro, poderemos projectar, na devida escala, o potencial de desenvolvimento referido, se condições houvesse para uma navegabilidade balizada e segura.
4-      Implementar uma estrutura de navegabilidade entre Ovar e Aveiro/Ílhavo, passando pela Murtosa e Estarreja, para além de dar sentido á recuperação pontual de alguns cais de acostagem, dá sentido e integrará o investimento nos patrimónios materiais e imateriais em curso em diversos Concelhos de beira-ria, promovendo novas mobilidades sociais.
5-      Tenho a sensação, quase certeza, que os responsáveis pelo executivo camarário de Ovar, assim como todo o corpo técnico e estratégico que informa a decisão política, ainda não interiorizaram convictamente a importância da implementação de um plano de navegabilidade da Ria, onde obviamente Ovar deve constar. Contactos regulares com as estruturas da CIRA, com os responsáveis do programa Polis da Ria, levam-me a concluir que Ovar parece estar sempre atrasado nesta matéria, e temo que definitivamente colocado fora desta rede de mobilidade. As linhas programáticas desenvolvidas para integrarem o Programa Polis reforçam esta minha convicção.
6-      Ideias e projectos que procurem o reencontro da cidade com a água, a rede de mobilidade ciclável, a recuperação de eventuais núcleos piscatórios, a recuperação de memórias náuticas, e outros projectos de índole imaterial farão muito mais sentido e terão muito mais hipóteses de sucesso se procurarmos criar condições para que chegar a Ovar ocorra de forma diferenciada, pela água. A ideia de Porta da Ria não é apenas uma imagem poética, é uma realidade muito concreta e deve ser bem localizada no território, dada a situação previlegiada de Ovar, no topo Norte da Ria e com uma particular relação com o Porto.

7-      Confirmando os aspectos fulcrais desta nossa reflexão em torno da relação PRU/Polis Ria,  menciono o facto de que no passado dia 19 de Outubro recebeu a CENARIO- Centro Náutico da Ria de Ovar, uma delegação da Universidade de Aveiro que se deslocou desde o Centro de Aveiro até ao cais do Puxadouro de Válega. Esta delegação, composta por 27 alunos da turma do  primeiro ano do Mestrado em Design da UA, dois professores e outros acompanhantes, deslocou-se em duas embarcações contratadas numa empresa que opera no centro da cidade de Aveiro. (Ver post anterior) .  Esta experiência e outras já ocorridas nesta Associação, prova em concreto que é possível articular a mobilidade pela água, a descoberta do território e o conhecimento específico do nosso património local. Restará articular uma oferta mais abrangente para outros tipos de público que podem chegar a Ovar deste modo diferenciado e peculiar.

8-      A Cenario- Centro Náutico da Ria de Ovar e outras colectividades, têm debate de ideias e projectos concretos, só não têm  território para os implementar.  
A Cenario e eu próprio, enquanto urbanista e cidadão , temos vindo a colocar esta e outras questões relacionadas com a navegabilidade da Ria e a criação de campos de regatas desde que o Plano Intermunicipal da Ria de Aveiro, elaborado em sede da AMRIA foi apresentado  em público no Centro de Congressos de Aveiro, com a presença do Primeiro Ministro do Governo de Portugal, á data Dr. Durão Barroso.









(imagem: Projecto MNO - Memória Náutica Ovarense - vista de Sul, esboço
- H. ventura, 2009)



Esta questão, estimulante para qualquer Urbanista ou Planeador do Território, determinante para o crescimento e consolidação da náutica de recreio, do desenvolvimento turístico e económico, potenciadora da mobilidade e interacção sócio-cultural, não tem tido a continuidade necessária ao nível da ação política, pois cruza transversalmente várias legislaturas e governos. 
É esta necessária continuidade que desejamos ver aplicada á Ria de Aveiro, no âmbito das dinâmicas iniciadas pelo Programa Polis para a Ria. Esta é a oportunidade para articular o programa de Regeneração Urbana de Ovar, inserido no programa Polis XXI, com o Programa Polis para a Ria de Aveiro. Lamento também, que ao nível da CCDRC, não se tenha colocado a questão desta articulação, potenciando sinergias e impactos nas dinâmicas territoriais de âmbito local e regional.




















imagem: Projecto MNO - Memória Náutica Ovarense - vista de Norte, esboço - H. ventura, 2009



Diz-se, e bem que o Território são as pessoas. Neste caso concreto, o Território não está a coincidir com as dinâmicas locais, com as pessoas. Basta percorrer as periferias da Ria, e verificar a constante degradação paisagística, e consequentemente a desqualificação do Território, desvalorizando e colocando em causa o futuro .
                                                                                                                                                                 
Helder Ventura,

Arquitecto e Urbanista
Director Técnico da Cenario- Centro Náutico da Ria de Ovar
Membro do conselho técnico da Rede Museológica de Ovar

2 Comments:

At 12:33 , Anonymous Ernesto Fonseca said...

Completamente de acordo..Esta visão de um plano de água, fácilmente navegável, unindo Ovar, Aveiro, Murtosa, Estarreja, Ílhavo..tem um potencial óbvio, sob todo e qualquer ponto de vista.
Porque não trocar uns metros de autoestrada (se ainda há alguma para construir..) por um empreendimento como este? Paga-se em pouco tempo,e, em pouco tempo, gera riqueza para concluir a autoestrada!.

 
At 16:42 , Blogger Joaquim Margarido said...

As coisas são tão claras. Só não vê quem não quer ver.

 

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