A articulação e o relacionamento das pessoas e das instituições no Território da Democracia. Um caminho elementar.
Na sequência da minha
participação no seminário promovido pela Câmara Municipal de Ovar –
Criatividade em Cidades Médias Nacionais, no âmbito da aplicação do Programa de Regeneração Urbana (PRU) em Ovar, Programa este inserido num outro mais amplo, o Polis XXI, seminário que ocorreu a 9 de Novembro, e após
uma reflexão sobre as diversas intervenções havidas, nomeadamente a questão levantada
sobre a articulação entre o Programa de Reabilitação Urbana em Ovar e o
Programa Polis da Ria de Aveiro, venho dar continuidade ao teor da minha
intervenção no referido seminário, que por razões de contexto e “timings”
procurou ser sintética e pontual.
(imagem ; projecto MNO - Memória Náutica Ovarense - esboço do interior - H. ventura, 2009)
Solicito portanto aos leitores que me acompanhem na seguinte reflexão:
1- Um
dos factores de diferenciação qualitativa e de forte atractividade de Ovar
cidade em relação á grande maioria das cidades portuguesas é que a Ovar se
poder ter acesso pela água.
Mesmo nas
condições actuais de navegabilidade, é possível hoje, tomar um dos barcos do
circuito turístico que operam em Aveiro e em menos de duas horas, chegar a
Ovar.
2- No
entanto, as actuais condições de navegabilidade aconselham que esta aventura
seja programada em dias e horas exactas, com conhecimento preciso da Ria e
orientação na chegada a Ovar. Estas condicionantes não estimulam potenciais
operadores a correrem o risco de colocar este trajecto na oferta de circuitos
turísticos que em Aveiro operam sobretudo nos canais centrais.
3- O
potencial de desenvolvimento económico e social que poderia resultar da
recuperação da navegabilidade da Ria, tendo Ovar como destino no topo Norte
desta rede de mobilidade distinta, é enorme e de uma força estruturante
determinante para o desenvolvimento do Concelho. A exemplo da recuperação da
navegabilidade do Douro, poderemos projectar, na devida escala, o potencial de
desenvolvimento referido, se condições houvesse para uma navegabilidade
balizada e segura.
4- Implementar
uma estrutura de navegabilidade entre Ovar e Aveiro/Ílhavo, passando pela
Murtosa e Estarreja, para além de dar sentido á recuperação pontual de alguns
cais de acostagem, dá sentido e integrará o investimento nos patrimónios
materiais e imateriais em curso em diversos Concelhos de beira-ria, promovendo
novas mobilidades sociais.
5- Tenho
a sensação, quase certeza, que os responsáveis pelo executivo camarário de
Ovar, assim como todo o corpo técnico e estratégico que informa a decisão
política, ainda não interiorizaram convictamente a importância da implementação
de um plano de navegabilidade da Ria, onde obviamente Ovar deve constar.
Contactos regulares com as estruturas da CIRA, com os responsáveis do programa
Polis da Ria, levam-me a concluir que Ovar parece estar sempre atrasado nesta
matéria, e temo que definitivamente colocado fora desta rede de mobilidade. As
linhas programáticas desenvolvidas para integrarem o Programa Polis reforçam
esta minha convicção.
6- Ideias
e projectos que procurem o reencontro da cidade com a água, a rede de
mobilidade ciclável, a recuperação de eventuais núcleos piscatórios, a
recuperação de memórias náuticas, e outros projectos de índole imaterial farão
muito mais sentido e terão muito mais hipóteses de sucesso se procurarmos criar
condições para que chegar a Ovar ocorra de forma diferenciada, pela água. A
ideia de Porta da Ria não é apenas uma imagem poética, é uma realidade muito
concreta e deve ser bem localizada no território, dada a situação previlegiada
de Ovar, no topo Norte da Ria e com uma particular relação com o Porto.
7- Confirmando os aspectos fulcrais desta nossa reflexão em torno da relação PRU/Polis Ria, menciono o facto de que no passado dia 19 de Outubro recebeu a CENARIO- Centro Náutico da Ria de Ovar, uma delegação da Universidade de Aveiro que se deslocou desde o Centro de Aveiro até ao cais do Puxadouro de Válega. Esta delegação, composta por 27 alunos da turma do primeiro ano do Mestrado em Design da UA, dois professores e outros acompanhantes, deslocou-se em duas embarcações contratadas numa empresa que opera no centro da cidade de Aveiro. (Ver post anterior) . Esta experiência e outras já ocorridas nesta Associação, prova em concreto que é possível articular a mobilidade pela água, a descoberta do território e o conhecimento específico do nosso património local. Restará articular uma oferta mais abrangente para outros tipos de público que podem chegar a Ovar deste modo diferenciado e peculiar.
7- Confirmando os aspectos fulcrais desta nossa reflexão em torno da relação PRU/Polis Ria, menciono o facto de que no passado dia 19 de Outubro recebeu a CENARIO- Centro Náutico da Ria de Ovar, uma delegação da Universidade de Aveiro que se deslocou desde o Centro de Aveiro até ao cais do Puxadouro de Válega. Esta delegação, composta por 27 alunos da turma do primeiro ano do Mestrado em Design da UA, dois professores e outros acompanhantes, deslocou-se em duas embarcações contratadas numa empresa que opera no centro da cidade de Aveiro. (Ver post anterior) . Esta experiência e outras já ocorridas nesta Associação, prova em concreto que é possível articular a mobilidade pela água, a descoberta do território e o conhecimento específico do nosso património local. Restará articular uma oferta mais abrangente para outros tipos de público que podem chegar a Ovar deste modo diferenciado e peculiar.
8- A
Cenario- Centro Náutico da Ria de Ovar e outras colectividades, têm debate de
ideias e projectos concretos, só não têm território para os implementar.
A Cenario e eu
próprio, enquanto urbanista e cidadão , temos vindo a colocar esta e outras
questões relacionadas com a navegabilidade da Ria e a criação de campos de regatas
desde que o Plano Intermunicipal da Ria de Aveiro, elaborado em sede da AMRIA
foi apresentado em público no Centro de
Congressos de Aveiro, com a presença do Primeiro Ministro do Governo de
Portugal, á data Dr. Durão Barroso.
(imagem: Projecto MNO - Memória Náutica Ovarense - vista de Sul, esboço
- H. ventura, 2009)
Esta questão, estimulante para qualquer Urbanista ou Planeador do Território, determinante para o crescimento e consolidação da náutica de recreio, do desenvolvimento turístico e económico, potenciadora da mobilidade e interacção sócio-cultural, não tem tido a continuidade necessária ao nível da ação política, pois cruza transversalmente várias legislaturas e governos.
É esta
necessária continuidade que desejamos ver aplicada á Ria de Aveiro, no âmbito das dinâmicas iniciadas pelo Programa Polis para a Ria. Esta é a oportunidade para articular o programa de
Regeneração Urbana de Ovar, inserido no programa Polis XXI, com o Programa Polis para a Ria de Aveiro. Lamento também, que ao nível da CCDRC, não se tenha colocado a questão desta articulação, potenciando sinergias e impactos nas dinâmicas territoriais de âmbito local e regional.
imagem: Projecto MNO - Memória Náutica Ovarense - vista de Norte, esboço - H. ventura, 2009
Diz-se, e bem que
o Território são as pessoas. Neste caso concreto, o Território não está a
coincidir com as dinâmicas locais, com as pessoas. Basta percorrer as periferias da Ria, e verificar a constante degradação paisagística, e consequentemente a desqualificação do Território, desvalorizando e colocando em causa o futuro .
Helder Ventura,
Arquitecto e Urbanista
Director Técnico da Cenario- Centro Náutico da Ria de Ovar
Membro do conselho técnico da Rede Museológica de Ovar
Director Técnico da Cenario- Centro Náutico da Ria de Ovar
Membro do conselho técnico da Rede Museológica de Ovar
2 Comments:
Completamente de acordo..Esta visão de um plano de água, fácilmente navegável, unindo Ovar, Aveiro, Murtosa, Estarreja, Ílhavo..tem um potencial óbvio, sob todo e qualquer ponto de vista.
Porque não trocar uns metros de autoestrada (se ainda há alguma para construir..) por um empreendimento como este? Paga-se em pouco tempo,e, em pouco tempo, gera riqueza para concluir a autoestrada!.
As coisas são tão claras. Só não vê quem não quer ver.
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